Jessé Souza *
As coisas acontecem muito rápido. Num átimo, e se a pessoa não ficar atenta, já estamos desejando coisas extraordinárias, como acertar na Mega-Sena, um príncipe ou princesa encantada descendo de um disco-voador, uma mágica que vai nos trazer êxtase, gozo e felicidade do nada.
O desejo de consumo é muito forte em nossas vidas e a velocidade de informação que nos bombardeia muitas vezes não nos deixa escolhas, atrofiando nossa forma de pensar, de analisar, de desejar, de querer e de buscar a felicidade.
Achamos que a felicidade está na viagem dos sonhos, na casa espetacular, no carrão do ano, na conta bancária gorda de uma herança que nem esperávamos. E esquecemos de viver a realidade, o agora, nos cegando para as coisas simples que nos trazem alegria e felicidade.
Fico preocupado com meus filhos, que estão sendo contaminados pelo consumo e pela cegueira do extraordinário, do brilho, das luzes e das cores. É uma luta constante mostrar que a diversão está em subir no pé de goiabeira e apanhar a fruta, que a alegria está no banho de igarapé, que o bom é ficar descobrindo formato de nuvens, que divertido é andar descalço na praia...
Eles querem cores e luzes de lanchonete, o brilho dos brinquedos caros, a água do parque da elite, o carrão reluzente dos ricos, as roupas que os artistas usam, as comidas que as estrelas de cinema “devoram”... Se não ficarmos vigilantes, eles serão devorados por este dente da engrenagem.
Estamos querendo felicidade fabricada, alegria artificial. E ficamos frustrados porque não encontramos onde está a varinha mágica para encontrar tudo isso. E cegamos, e nos deprimimos, perdemos a vontade de encarar a realidade.
A alegria está bem ali, no sol do entardecer, no banho de chuva, em rir dos nossos próprios defeitos, em fazer uma churrasqueira improvisada no chão, em descobrir que uma conversa de fim de semana com amigos é mais prazerosa do que os vídeos cacetadas.
O prazer está bem ali, numa praia de água doce, num passeio de barco, em abraçar o filho que acabou de fazer um desenho, em observar um passarinho que acabou de posar na árvore.
A felicidade está bem aqui, em aceitar como somos, em conceber que a gordurinha na cintura não é o fim do mundo, que o short rasgado na coxa é moda, que a bicicleta velha pode ser a liberdade do passeio, que o tempo cura tudo e que aceitar a diferença dos outros nos tornará mais humanos.
Não, a felicidade não está no ter e no poder. Ela está bem aqui, em descobrir que podemos ser felizes redescobrindo que pequenas coisas fazem a grande diferença e que o extraordinário é ser simples.
* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Visite o blog do colunista: http://pajuaru.blogspot.com
Mas consumir faz bem.
Sempre achei que a verdadeira felicidade só pode ser encontrada na simplicidade (entre outras coisas, é claro). Obrigada pelas visitas no apareceu a aparecida. Beijos.
Cara, não sei. Acredito que não existe falsa felicidade. Existem pequenas felicidades, fugazes felicidades, superficiais felicidades... mas tudo é felicidade de uma forma ou de outra. Ser feliz, mesmo que por alguns instantes, vale a pena.
Beijos!
É uma realidade, mas todos gostamos desses pequenos bens materiais, nao o vou negar, mas quando eles começam a influenciar o nosso modo de viver e começamos a viver em função deles então aí já é demais... às vezes me pergunto para quê tudo isso... no final a gente vai e fica tudo aqui na terra... mas a verdade é que estamos nos tornando escravos do nosso próprio progresso. Talvez Huxley seja um visionário...
Bjo