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MERDA

Posted by : DANIEL MORAES | 04 dezembro, 2008 | Published in

Eram 06:20 quando acordei para ir ao Posto de Saúde que fica perto de casa, deixar “o material” de fezes e urina.

Meu intestino, bem como o dono, é anárquico! Odeia ordens, só “funciona” quando quer... Não possui horário certo para o “número dois”. Escovei dos dentes, pequei a toalha e fiz-me Rei! É... Confesso que tava difícil! Senti uma “fileirinha de merda” aportando na porta de saída, querendo ir, mas não ia! Ficamos nessa, por mais ou menos vinte minutos, até a dita cuja enfim dar o ar de sua graça (e fedor), caída numa latinha de Doriana estrategicamente posicionada entre minha bunda e a água da privada.

Após essa primeira fileira rebelde descer, veio mais duas. O suficiente para deixar em meio pote, o que já era suficiente para a análise (me pergunto sobre esse povo de “análise clínicas”, que trabalham literalmente na merda... Como esse povo é capaz de almoçar? Será que no final da vida profissional, terão capacidade de sentir algo que não seja fedentina? Eis a questão?).

Levei o material enrolado num pedaço de jornal velho (os potes eram transparentes). Na primeira, a chamada principal dizia: “China oficializa recessão”. Pensei: “É, a coisa ta feia!”. Fui andando até o Posto de Saúde, duas quadras de minha casa. Dez minutos e já estava lá.

Chegando lá, vi que tinham dez pessoas a minha frente; numa mesinha, uma senhora pegava os materiais e assinalava os mesmos. Muitos, como o meu eram transparentes; pensei: “minhas fileirinhas de merda são mais discretas”. Havia cada tolete...

Não pude deixar de vê as categorias de merda que lia estavam. Umas meio rochas, outras meio líquidas, mas só a minha em tiras. Entreguei meu material e fui pra casa. Ontem foi dia da consulta; peguei os resultados na recepção, e fui esperar a médica. Quando cheguei eram 13:00 horas em ponto; como sempre, esses médicos acham que agente não tem mais nada que fazer da vida (desculpa Flávia mas...), pois seu horário de atendimento é as 14:00 e a mesma foi chegar as 14:40 (cidade pequena como Boa Vista, não tem a desculpa do transito).

Enquanto esperava não pude deixar de pensar na merda (e em merda). Percebi o quanto somos tratados feitos merdas, excrementos que servem aos desígnios da classe dominante. Vejam, para os políticos somos meros números, o quantitativo necessário para sua perpetuação no Poder. Oferecerem-nos as “Bolsas Misérias” e Fome Zero, atos paliativos, dando o peixe, mas nunca ensinando a pescar, escravizando cada vez mais o povo pobre que cada vez mais se transformam em miseráveis.

Para o Capital, somos o proletariado que é explorado através desse Sistema Capitalista Neoliberal, que pôs fim ao víeis social do emprego, nos exigindo cada vez mais e oferecendo cada vez menos.

E para nós mesmos... Somos o BBB! A alienação nossa de cada dia. A diversão fugaz e sem sentido, que faz o País inteiro por três meses sofríveis, discutir em filas de banco, rodas d bares, festas e afins, quem fica e quem saí da casa mais vigiada do Brasil (Né não Bial?).

Somos merda de nós mesmos! Vejam o caso de Santa Catarina. Pergunto-lhes: A culpa é de quem? Da natureza, cada vez mais desrespeitada pelo homem, que polui, desmata, joga suas merdas e afins Tietê a baixo, ou de nós, que elegemos políticos sem nenhum compromisso, que deixaram as metrópoles crescerem sem qualquer planejamento?

Nós somos uma merda cada vez mais fedorenta! Bandidos que arrastam uma criança bairro a fora; pai que atira filha pela janela; pai e madrasta assassinando irmãos; um lunático que mata namorada e pais que permitem que um homem de 19 anos namore que uma criança de 12; ex-marido que obriga mulher e filho a se atirarem pela janela. Anjo caído que tem poder de um Deus e Deus sendo explorado, sendo bode expiatório de pastores que exploram a fé alheia em nome da ganância!

Porém, às vezes, se vê motivos para ter visões mais interessantes da merda de sociedade ao qual vivemos. Enquanto esperava, resolvi me encostar em um pilar; enquanto me refestelava, ouvi em assobios o clássico do rei do baião, Luis Gonzaga, Asa Branca. O assobio era de uma “melodia” aconchegante; quando olhei pra trás, percebi que quem assobiava era um senhor paraplégico em sua cadeira de roda. Pensei: “Quem somos nós? E até onde chega o fedor de nossas merdas?

"No fundo do oceano existe um baú que guarda o segredo almejado desde a aurora dos tempos por gênios, sábios, alquimistas e conquistadores. Eu conheci esse baú num estranho ritual revelado a poucos. Hoje eu posso enfim revelar que essa busca de séculos foi em vão.

A Pedra do Gênesis
Está bem aqui e agora, você pode tocar.
É a escada do seu velho sonho
Que vai dar sempre onde começou.
É a chave do maior poder
Que não vale um chiclete
Que alguém mascou...”

(A Pedra do Gênesi – Raul Seixas)