LANCES DA VIDA

Posted by : DANIEL MORAES | 01 julho, 2008 | Published in

O que é o tempo? Uma cronologia? Um cálculo? E que valor você dar ao tempo e as influências que o mesmo tem sobre si? Bem, pergunto isto, pois três coisas me chamaram atenção neste final de semana. A primeira e razão do título desse artigo, foi o capítulo de domingo do seriado teen norte-americano que o SBT exibe e que acompanho quase que religiosamente chamado Lances da Vida. Esse enlatado americano é sobre a vida de certo grupo de amigos capitaneados por Lucas Escot. Nesse domingo, o professor passou-lhes uma atividade que consistia em passar cinqüenta minutos com um colega de classe, conversando sobre a vida de cada um e ao final, tirar uma fotografia, registrando aquele momento e fazer uma redação sobre o que aprendeu com o outro.

Chamou-me atenção a narrativa final em que Lucas questiona como não conhecemos as pessoas direito, por mais que estas sejam muito próximas de nós.

O segundo fato é que na tarde desse mesmo dia, reencontrei um amigo de escola que há muito tempo não via. Na época em que estudamos (3º ano do ensino médio) éramos muito ligados, quase irmãos. Passados mais ou menos seis anos, a sua figura não mudou muito, mas a forma como me cumprimentou... Estava no terminal de ônibus, indo para casa de uma tia minha, e eis que o vejo. Como sou expansivo, toda vez que vejo um amigo (a) de longa data, vou sempre ao seu encontro com braços abertos a fim de dar um abraço, enfim, demonstrar que estou feliz com o reencontro; e assim fui ao encontro do mesmo, mas fui recebido que um frio aperto de mão.

A vida é realmente surpreendente e principalmente, as ações do tempo sobre nós é algo de se espantar. As relações humanas são todas dificieis e complicadas, graça e obra de nós mesmos; mas há algo que sempre quando tenho oportunidade, gosto de citar: acredito que cada pessoa, independentemente de quem seja e da amplitude da relação que se possa ter, deixa um pouco de si; cada momento juntos, contribui para a evolução moral, cultura e espiritual de cada Ser; mesmo numa relação não muito interessante, se aprende muito.

Esse rapaz e eu fomos muito ligados. De sair pra beber, de jogar bola num mesmo time, de trocar confidências, consolar dores de cotovelo, e num caso não muito legal de ser relatado, ir pra porrada juntos. Passados tanto tempo, de cada um ter ido pra lados opostos, viver coisas diferentes, tomar rumos diferentes, me vi ao lado de um estranho. De repente, nada daquilo que vivemos parecia real. Tentava tirar respostas a mais que meros monossílabos, em vão. Desembarquei no local de destino meu, enquanto ele seguiu rumo ao seu destino, e definitivamente, nossos destinos hoje são totalmente opostos.

Terceiro fato aconteceu à noite. Ao sair com um amigo pro Arraial, e passeando nas dependências da festa, eis que ele encontra “um esquema dele”. A gata é uma gata, tem vinte e dois anos; na semana passada, no mesmo local encontramos a mesma. O que difere as duas situações é o tempo que passamos lá nesse ultimo dia, o bastante para que minha visão sobre aquela garota mudasse da água pro vinho.

Confesso meu olhar machista com relação a uma coisa. Sou do tipo de homem que acha que existe a mulher pra ficar e pra casar. E essa moleca, depois desse domingo saiu do primeiro estágio e definitivamente, eu casaria com ela.

O cidadão já tinha me alertado para o fato de que a mesma não era “uma qualquer” no final de semana anterior, em que eles ficaram. A coisa mudou aí, eles não ficaram nesse domingo, pois, numa dessas coisas que só uma mulher tem, a condescendência superior que nós machos, nunca vamos ter, ela percebeu que meu amigo não estava num dos seus melhores dias. O dito cujo está de quatro pneus arriados por uma cidadã que não tá nem aí pra ele. Essa guria se fez mulher; o aconselhou de tal maneira, como se tivesse, sei lá, uns quarenta anos. Nos meus vinte e cinco anos de vida, de tantos e tantos conselhos dados a amigos (detalhe importante, sou ótimo conselheiro, porém, sou péssimo conselheiro de mim mesmo) e de tantos e tantos conselhos a mim ofertados, nunca presenciei alguém com tamanha autoridade sobre um assunto quanto àquela que naquelas alturas, já pensava: “Essa é A Mulher!”.

É impressionante como julgamos um livro pela capa; como somos possuidores de Pré-Conceitos espúrios e sem lógica. Classifique-ia por aquilo que achava, ou seja, apenas “um naco de carne ambulante”, indigna de ser mulher “pra namoro ou casamento”. Me vi, um perfeito babaca por pré-julgar alguém com quem antes, passara duas horas, e que não conhecia (e não conheço) sua vida o suficiente para tirar qualquer juízo de valor. Coisa de homem machista, burro e idiota!

Agora você me pergunta: o que um seriado americano, um reencontro com um ex-grande amigo de escola e uma garota em que você pré-julgou estupidamente se entrelaçam nesse texto? Simples, o tempo! Lembram que eu resumi o capítulo desse domingo, do exercício de passar cinqüenta minutos com o outro e que no fim ele faz o questionamento de que não conhecemos as pessoas direito, mesmo sendo bem próximas de nós? Pois é! Num curto espaço de tempo, um “quase irmão” se tornou qualquer estranho, e uma estranha, uma grande mulher.

O Lucas, protagonista do seriado, passou seu tempo com alguém que nunca tinha conversado antes. A garota, de estilo rebelde, não ia lá com as fuças dele. No final, o mesmo percebeu que tinha muita coisa parecida com ela, e ambos passaram a se ver de uma forma diferente. Tanto que, ao final, ele a vê saindo de carro com a mãe e vai cumprimentá-la, dando-lhe o rascunho do livro que está escrevendo, pra que ela leia e veja se está bom, iniciando um vínculo de amizade.

Nesse domingo achei que vivi algo parecido. Quis ficar amigo daquela garota; não com segundas intenções, mas pelo que percebi enquanto conversávamos sobre o imbróglio amoroso de meu amigo. Ela me pareceu ser uma mulher muito especial, com quem adoraria ter uma amizade verdadeira (mas se rolasse uns pegas ou mesmo um namoro, eu não iria achar ruim não...), tipo a que o amigo (amigo?) do ônibus e eu tivemos um dia.

NO VÍDEO: Pink Floyd – Time.



Por: Daniel Moraes.

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