Enquanto minha mãe entra no bloco cirúrgico do CTI Cardiovascular para fazer duas angioplastias, minha amiga verde e eu fizemos uma oração. Duas orações. Silenciosas.
E minha emoção vai e vem entre lembranças do dia fatídico que fomos ao hospital, da minha amiga Ariel Sharôn e a falta que tenho sentido nestes dias todos, do meu moleque que só me vê interiorizada e egoísta, na minha avó que sofre, na minha cachorra que uiva todas as noites na porta do quarto da minha mãe... E na minha grande amiga verde que agora me faz uma massagem nos ombros.
Quero comer chocolate, quero correr cantando alto, quero colo, quero minha mãe, quero minha Ariela, quero minha verde, minha cachorra, meu filho, meu “cheiro de filho”, ah! Minha Flor da Terra das Flores Gigantes, minha Flower by Kenzo, minha Tia Juju, meus dois anjos inventados, meu Pepi, minha Xábalas, minha sister... Um tanto de pedaços de mim.
Sharôn! Quero te ver, quero te dar um abraço, quero te levar pra correr, pro forró, pro rap, pro samba, pro morro do asfalto na casa da Edivânia, pra Serra do Cipó! Para a nova novela das oito.
Madre. Ta pesado. Ta foda. Ta doendo. Eu sei... “Amadurece, Carolina!”. Mas dói. Será que já colocaram o tal do stent? Será que você ta acordada e conversando? Será que vou te ver bem hoje? Ai, mãe.
Oração, saudade, raiva, angústia, espera, supera... Telefone tocando. Não atendo mais.
Atendi. Era Simone, aquela bruxinha que trabalha lá em casa. Ligou pra dizer que comprou uma tal mangueirinha e uma tal borrachinha e arrumou o vazamento do banheiro... Ufa! E disse que a veia almoçou, a pressão voltou ao normal depois do chá de alecrim e agora está dormitando.
Meu amigo já chegou aqui e vai me levar ao hospital. Ufa!
Sharôn deve estar cuidando bem dos porcos, as veias obstruídas de mi madrecita já devem estar em pena expansão pelo balão que leva o stent, minha roupa comporta o calor do dia de hoje, minha sogra (ela sabe que será sempre ‘a sogra’, mesmo não sendo sogra) está com o meu pequeno e mais dois colegas da escola e recebi um abraço caloroso agora.
Ai. Muita coisa. Pouco tempo. Pouca pessoa.
Vai dar tudo certo. Eu sei, mãe. Não precisa mais pensar em mim. Agora vamos cuidar de você.
Crescer dói, mas é bom. Me sinto tão gente grande...
By Carolina Bahasi
29 de Agosto de 2008.
14:51 h.
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