MENINAS DE OURO

Posted by : DANIEL MORAES | 21 agosto, 2008 | Published in

Há histórias que dariam verdadeiros contos de fadas. Mas é quando a vida caprichosamente vem e diz, “não será do seu jeito, mas sim, do meu!”.

Hoje eu não iria falar da corrupção brasileira; tão pouco, escreveria um poema, um conto erótico, ou confessaria algo. Iria falar de vitória... Falaria de mulheres, mas não seria nenhum texto reverenciando sua simbologia, avanços e conquistas ou discriminações; iria contar feliz, a conquista inédita do ouro olímpico do futebol que Marta, Cristiane e CIA conquistariam; mas a vida disse não!

A história é escrita pelos vencedores (nesse caso, vencedoras). O que entra para o almanaque olímpico, é o bi-campeonato das Americanas frente à Seleção Brasileira. Mas há vitórias e vitórias, derrotas e derrotas... E o fato é que as Americanas venceram, mas não mereciam, já as brasileiras, mereciam mais não ganharam. Outra vez, o pragmatismo americano se fez senhor, frente à genialidade brasileira.

Há coisas que definitivamente vou morrer e sem entender... Como a vida pode ser cruel, ingrata e injusta com quem não merece? Às vezes dá zanga de Deus na gente... O Senhor escreve um verdadeiro conto de fadas, mas faz um final sem final feliz; dá vontade de dizer, “pow Deus, sacanagem aí!”.

Elas eram (e são) melhores que as adversárias, mas por quê o mesmo resultado e situação de quatro anos a trás? Num bate e rebate na entrada da área, a n.º 11 americana acerta um chute indefensável selando o destino do jogo. Por quê elas dominam o jogo, mas não ganham? A bola parecer ter vida, é caprichosa, cruza a área adversária na falta que a Marta bateu, kica no chão, e passa rente a trave. Cruzamento na área, Cristiane cabeceia e a bola passa rente a trave. Marta faz das suas, ganha na velocidade, dibla as zagueiras, chuta forte, mas a goleira, num puro reflexo, defende...

É difícil ver a melhor do mundo chorando, perguntar a Deus o que ela fez de errado... É difícil ver uma atacante habilidosa e raçuda como é a Cristiane, se desfazer em lágrimas... É difícil ver a MELHOR SELEÇÃO DE FUTEBOL FEMININO ruir ante a crueldade e injustiça da vida! Acredito que deva ter passado na cabeça delas, todos os sacrifícios que fizeram para estar ali, já que a “pátria de chuteiras” não dá a mínima pro futebol feminino. E o paradoxal disso, é que nenhuma delas tem um passe de 80 milhões de Euros, como o Ronaldinho Gaúcho; Marta é a que melhor salário tem, mas pra isso, joga num país europeu, que está a zilhões de kilômetros de sua terra natal, Alagoas, longe da família e amigos.

Há histórias que devem ser contadas da forma como deve ser, e com final feliz!
Escrevo essas linhas com uma tristeza profunda; minha tristeza não é pela derrota em si, mas pelo fato de que a vida não poderia ter feito o que fez; elas não mereciam outra medalha que não fosse à de ouro! Às vezes não basta ser reverenciado como melhor, tem de haver o reconhecimento; e nada simboliza mais isso, que a vitória olímpica que era pra ter ocorrido.

Como sempre digo quando escrevo sobre futebol, O FUTEBOL ENSINA... E não há lição mais dura que é a de que nem sempre o melhor vence; nem sempre quem merece ganha; e que a vida, pode sim aprontar das suas, e que devemos o mais rápido possível, curar as feridas, levantar e dar a volta por cima.

Resta-nos agora bater palmas e dizer BRAVO, BRAVÍSSIMO! Ruíram em pé, lutando com garra, força a galhardia até o final, honrando a camisa que vestem e a pátria que representam.

As meninas do futebol mostraram ao mundo futebolístico, que dá sim pra aliar disciplina tática com técnica; que se pode jogar um futebol alegre, envolvente, de dribles e lindos lances.

Essas meninas podem ter ganhado a medalha de prata, mas possuem o coração e as chuteiras de ouro.
EXTRA
Bom final de semana pra todos
Tem texto da Carol aí em baixo.

NO VÍDEO: Milton Nascimento – Maria, Maria.

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