QUE FUTURO É ESSE?

Posted by : DANIEL MORAES | 27 janeiro, 2009 | Published in

“De nada valem as idéias sem homens que possam pô-las em prática” (Marx)




Em pensar que já faz 09 anos. Em novembro de 2000, aos 17 anos de idade, já era veterano no Movimento Estudantil de Roraima. Meu codinome era Pardal, e desde 12 tentava fazer a Revolução. Sim! Pois nada em minha cabeça era obstante de uma insurreição.

Eram outros tempos. Ainda existiam dentro daqueles que participavam dos ditos “movimentos sociais”, a centelha da mudança. Acreditávamos que muito mais que a mera retórica, poderíamos sim fazer a diferença.

Dos 07 anos em que estive envolvido com as causas secundaristas, sentei ao lado de Governadores, Deputados, Senadores, enfim... Éramos um grupo respeitável, e nos encarávamos com deferência e prestígio. Sempre estive na “oposição”, lutando para remover do “poder” o grupo liderado pelo Paulo Tadeu, Maria, Hélio e CIA LTDA. Tadeu foi o que “reinventou” a URES (União Roraimense dos Estudantes Secundaristas) e UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas). Aliás, foi graças a ele que ingressei no mundo secundarista, quando em ocasião, fui um dos “Delegados Representantes” de minha escola.

E a partir daí pude entender como funciona o mecanismo de poder no Brasil. Paulo Tadeu durante muito tempo, foi o expoente do Movimento Secundarista em Roraima, até que o Ex-governador (já falecido) Ottomar de Souza Pinto, a fim de lhe dar um “cala boca”, criou um cargo especial dentro da Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Roraima, destinado ao cidadão citado. “Comprado”, Paulo monopolizou o Poder dentro da URES e UMES, fazendo eleições fajutas e colocando como Presidentes das Entidades pessoas de sua confiança, para que as mesmas não fizessem barulho e reinvidicasse seus direitos.

Meu primeiro grupo foi o que fundou a OESI (Organização Estudantil Secundarista Independente). Foram dois anos onde aprendi que por causa da briga pelo poder, um ideal pode ser posto em segundo plano, e o jogo de vaidades dá o tom.

Éramos bons, tínhamos apoio do então governador, Neudo Campos, todavia, a briga pela Presidência da entidade pôs fim àquilo que poderia ter dado certo. Pra terem idéia, costuramos aliança com o SINTER (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima), a instituições dos professores, possuíamos grande parte dos Grêmios Escolares da capital, três no interior... E tudo foi pro lixo em menos de dois anos.

Daí fui para o MJA (Movimento da Juventude Alternativa). Do grupo, o mais experiente era eu (isso com 16 anos), e a confraria pecava pela falta de idéias. Também aconteceu de ter eleições na URES / UMES. Pra que tenham noção das coisas como eram, os grupos “oposicionistas” se reuniam 04, 05, 06 meses antes das eleições. Eram formadas verdadeiras estratagemas, reuniões varavam noite adentro, discussões, bate boca para fazer a chapa a fim de acomodar todos “os setores”. Todavia, tudo ia por água abaixo, pois sempre o Tadeu dava um jeito de manipular as eleições.

Mas a ultima que participei teve algo diferente. Através de um mandato de segurança impetrado por nós “de esquerda”, conseguimos anular a eleição da UMES (isso em 1999). O resultado disso foi à eleição do Geraldo Vasconcelos (candidato apoiado por mim, sendo que minha escola lhe deu a vitória – e na época eu era o Presidente do Grêmio Revolução Ana Libória).

No apagar das luzes de 2000, Vasconcelos estava sozinho. Meu grande amigo Danilo Rafael lhe apoiará, e numa conversar de quase duas horas na minha casa, os três chegaram num acordo, e ingressei a UMES (Diretor de Ética). Nossa primeira medida foi à concepção de um Informativo, que denunciasse a ingerência da URES, sua aliança com a Direita (leia-se, apoio à candidatura à Prefeitura de Boa Vista, do indicado do Governador). Assim nasceu O Arroto Estudantil. Demos esse nome, pois lembramos da Novela Global Ferra Ferida, em que o grupo de oposição ao Prefeito interpretador por Lima Duarte, criava O Arroto, para denunciar os desmandos do cidadão. Como o espírito era o mesmo, o nome se encaixou como uma luva.

Coube a mim assinar a Crônica principal, mas devo confessar-lhes com 80% do folhetim estudantil foi concebido por mim. O mesmo foi composto de Editorial, colunas Falando Sério, Opinião Estudantil, Passando a Limpo, Social, Pronuncia do Presidente, Crônica e expediente. Foram feitos 1.000 exemplares, e o bafafá foi enorme. Apesar de ter sido feito em final de ano, foi matéria do principal jornal da Cidade, a Folha de Boa Vista.

Guardo com carinho os meus 07 anos de Movimento Estudantil. Foi nessa época que ingressei do PC do B, tive oportunidade de quase me candidatar a vereador com oportunidade real de vitória, fiz amigos, criei consciência cívica, política e cidadã, coisa que grande maioria do povo brasileiro na possui.

No final do mandato do FHC, Paulo Renato de Sousa, então Ministro da Educação baixou portaria tirando dos movimentos estudantis a exclusividade da expedição de carteiras de estudante, pondo a pá-de-cal nessa espécie de entidade de classe. Aliás, foi nessa época que as ditas “Organizações Representativas” morreram. Sim! Pois quando Lula assumiu, fez o que Ottomar executou aqui, engessou os movimentos de classe pondo seus representantes no segundo e terceiro escalão de Brasília.

A UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes) se venderam assim como a CUT e afins... Mas os jovens “de hoje em dia” não estão “nem aí” com a política; todos preferem BBB a interagir com as causas sociais, exigir melhores condições de estudo e coisa e tal.

Em pensar que na época da Ditadura, os Estudantes foram os principais agentes da resistência contra os Milicos. E já não faz tanto tempo assim que os “Caras Pintadas” foram as ruas de preto e foram o símbolo da derrocada do Collor. Essa juventude BBB, que se exibi e acha lindo aparecer, se esquecem que tem um compromisso para com este País, que viver é um “fazer política diário”. Não me surpreende em nada que esse Brasil seja tão corrupto e desorganizado e será o eterno “país do futuro”. Mas que futuro é esse? De gente que só pensa em ficar famoso, mesmo que seja pelas vias amorais? Ou de gente que quer envelhecer bem, que deseja criar seus filhos com o mínimo de dignidade? Eis a questão?


(13) Comments

  1. Paula Barros said...

    Louvo quem tem uma trajetória assim para contar.

    Também me questiono que futuro é esse?

    abraços

    27 de janeiro de 2009 às 21:25
  2. Iara Alencar said...

    penso que os tempos sao outros meu caro, hoje vivemos mais numa era de informação em tempo real e capacidade de argumentar e trazer pro seu lado do que em protestos e caras pintadas nas ruas.
    gostaria de desculpar-me pela ausencia no so pensando, mas saiba que sempre gostei do que escreves e esse é o daniel que eu aprendi a gostar.

    27 de janeiro de 2009 às 21:39
  3. Camilla K. Boyle said...

    De facto eram outros tempos. Eu vejo as pessoas, hoje em dia, perdendo seus ideias por entre lojas do Shopping, tudo está perversamente montado para que elas dirijam sua atenção para coisas fúteis. E mesmo quando há ideias, as pessoas tem medo de ir à luta e dar a cara dado que vivemos numa época instável em que podemos perder tudo o que temos à velocidade de um cometa. O futuro já é incerto quando somos jovens, mas o futuro que se avizinha não permite sequer ver uma linha no horizonte... inevitavelmente temos que ser pessimistas, ainda que digam que a esperança é a última que morre.

    Beijos e boa semana

    27 de janeiro de 2009 às 21:55
  4. Anônimo

    Sobre os jovens não serem tão assiduos ou não se preocuparem com os rumos do país hoje é uma realidade.
    Diferentemente de tempos atras em que chegaram até a lutar pelo impeachment de um presidente.

    Hoje se coloca dinheiro acima de tudo. A mídia (com esses bbbs da vida) cria ilusões e espalha fantasias na cabeça das pessoas e dos jovens, e eles vão atras disso como um boi seguindo uma manada.
    Falta opinião, critério, valores e até respeito por si mesmo.

    Infelizmente as coisas não são mais como antigamente (daquele lado bom), mas um dia se espera que tudo mude e que toda a luta do passado tenha valido a pena.

    Eu tambem participei de movimentos estudantis na época e tenho essa bandeira como um simbolo até hoje.

    Abraços Daniel.
    mais um bom relato o seu.

    p.s. estou te adicionando no msn. se frequenta, vamos bater um papo por lá :)

    28 de janeiro de 2009 às 13:40
  5. Anônimo

    Pois é Daniel, concordo com tudo isto que escreveu...
    O brasileiro é leigo em política, quanto mais ''ignorante'' mais fácil de manipular. Existe uma culpa em cada um culpa particular e vazia mesmo...Que país é este?
    hum, você será um lider politico rapaz...tome cuidado pra não se envolver demais...aqui no Brasil a politicagem me parece muito sem vergonha...E quem não se adaptar ao esquema é peixe fora d'agua...
    Mas acho bonita a tua garra, o seu ideal e vontade de mudanças e reações...Precisamos acordar os sentidos mesmo....É preciso...

    Bj

    28 de janeiro de 2009 às 16:19
  6. Renata Carvalho Rocha Gómez said...

    Nao se fazem mais seres humanos como antigamente

    28 de janeiro de 2009 às 20:51
  7. Anônimo

    Cidadãos plenamente conscientes dos seus direitos e deveres constitucionais são capazes de mover as estruturas da política brasileira, bem como lutar por melhorias na qualidade de vida de toda uma nação. Temos fatos históricos que confirmam a força de um povo que sai às ruas, pintam a cara e conseguem até derrubar um presidente corrupto.
    É de praxe que pessoas com este poder (todos nós), estejamos longe do alcance político e sejamos ludibriados com o circo brasileiro americanizado (big brother, carnaval, futebol, músicas medíocres, ídolos fabricados pelo Faustão, etc.). Também é imprescindível que tenhamos uma educação precária que não permita tornar o ser humano reflexivo e pensante, também é bastante conveniente que o investimento da miséria seja realizado, pois assim lhes permitirá a troca de votos por esmolas.
    Este é o mundo! Pessoas com grande potencial sendo enganadas com ridicularidades impostas. Manter o povo na ignorância é conveniente, afastá-los dos direitos constitucionais é perfeito e colocar idéias prontas é muito menos arriscado que deixar que o povo seja livre para criticar toda esta podridão.

    PS: Seus textos continuam maravilhosamente criticos e reflexivos e o novo visual do blog está perfeito, lindo, adorei

    ANA CÁRITA

    29 de janeiro de 2009 às 08:40
  8. Marcela said...

    adorei toda tua história, tudo o que fez e sim, assumo que minha relação com política não é as melhores, mas também não faço questão nenhuma de 'ver BBB' e viver nas futilidades que vejo muitos estudante se entregando.
    Queria poder ser mais ativa quanto ao assunto que você apontou, mas realmente nao sei nem por onde começar !

    Seus textos são muito interessantes e adoro os assuntos que surgem por aqui!
    Baci.

    29 de janeiro de 2009 às 11:53
  9. eu... said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    29 de janeiro de 2009 às 14:18
  10. eu... said...

    Na minha época de universitária eu era bem atuante...uma apaixonada,crente que mudariamos o mundo...
    Mas confesso que o tempo foi passando e cada dia mais fui me vendo egoista,lutando mais por mim que pelo social...
    Enfim, admiro quem não desiste nunca de acreditar e por a mão na massa!A esperança nem perdi não,nunca a perco!E creio,mesmo, que um futuro melhor só poderá acontecer se juntarmos as mãos e as forças...porém acho cada dia mais dificil dessa 'união' acontecer!...

    Excelente post!
    beijo.

    29 de janeiro de 2009 às 14:19
  11. Sandra Costa said...

    Poxa.. gostei daqui... =)

    29 de janeiro de 2009 às 19:02
  12. Brasil Empreende said...

    Ola visitei seu blog e achei um barato e gostaria de convidar para acessar o meu também e conferir a postagem desta semana: Inovar: O grande X da questão. E Estamos participando do 1º Concurso BR-Infor-Blog, e gostaríamos de contar com o voto de vocês.
    Sua visita será um grande prazer para nós.
    Acesse: www.brasilempreende.blogspot.com
    Atenciosamente,
    Sebastião Santos.

    1 de fevereiro de 2009 às 12:01
  13. Alessandra Castro said...

    O molde das boas pessoas naum existe mais.

    1 de fevereiro de 2009 às 18:25