Só um pedaço...

Posted by : Bahasi | 26 setembro, 2008 | Published in

Ela disse que não conhecia nenhum sujeito com nome de Erivaldo e que nunca o tinha visto mais gordo. Estava um tanto quanto agitada. Suava um suor melado nas dobras dos braços gordos e lisos. Sua voz afinava à medida que ficava exaltada. Trocava a sacola de plástico que carregada de mão em mão, numa inquietude notável. Seus cabelos presos num rabo de cavalo começavam a arrepiar e agora ela procurava na bolsa o bendito creme para pentear e não achava.

Maria José não olhava nos olhos do interruptor tamanho medo de encontrá-los e não conseguir contê-los. Usava saia jeans até abaixo dos joelhos e uma camiseta azul nova. Isso a deixava ainda mais voluptuosa e desajeitada. Não deveria usar aquele tipo de blusa, colada no corpo, como usam as mulheres da vida. Isso a deixava ainda mais envergonhada. E não, não conhecia nenhum Erivaldo, meu Santo Expedito, pra mó de quê tanta insistência?!

Achou o spray para garganta e espirrou um pouco no cabelo eriçado sem pensar e virou as costas para aquele homem grande com a pele negra e músculos, ai, Minha Nossa Senhora!

Suspiro...

Passou pelo detector de metais a trancos e barrancos e entrou naquele lugar peçonhento, com cara de morte e cheiro de azar.

Sacolejou mais uma vez a bolsa na inútil tentativa de achar algo que lhe cobrisse o colo. Aquela blusa azul... Como pôde?

Todo domingo era a mesma coisa. Ela se arrumava toda, se perfumava com a colônia fresca que ganhara de uma amiga no último aniversário, fazia um rabo de cabelo como ele gostava, bem alto, limpava as unhas, escovava os dentes como nunca e separava a marmita de doce e de sal. Na primeira ela levava sempre o pudim de pão que ele comia estalando os lábios. Na outra ia comidinha de casa mesmo, arroz, feijão, tomate, alface, angu, dependendo do que tinha na geladeira. Apesar da vida dura que Maria José vinha levando nos últimos quatro anos, a comida sempre tinha gosto de amor, “de mulher pensando no seu homem” como ele costumava dizer.

Ela fazia isso tudo por ele. Porque no fundo sempre odiou aquele tipo de gente naquele tipo de lugar. Lugar feio, chão escuro, parede escura, tudo uma escuridão que só!

Parou antes do hall principal e fez o sinal da cruz com a Bíblia em punho. Levantou-se, abaixou a cabeça e seguiu caminho. Quem a conhecia já a respeitava porque a “Zezé” é mulher de família. Não gostava que lhe chamassem assim, mas acostumou-se. Mas ainda pôde perceber uns olhares proibidos devido a pouca vergonhice que era usar aquela blusa colada! Não cumprimentou ninguém.


By Carol Bahasi

25/09/08

(5) Comments

  1. Anônimo

    Um conto by Bahasi... Legal, bem construído, cheio de detalhes, deu até pra imaginar a cena dela com a bíblia. Bjus.

    26 de setembro de 2008 às 10:03
  2. Jairo Borges said...

    Legal o conto!
    espero continuaidades!
    qual era a intensidade da dedicação dela?!
    Até que ponto ela iria por ele!
    Ela cobria o sopro de carne entre a blusa e a saia com a biblia, para simular falsa moral e se dizer superior aquele lugar??
    imaginei n coisas!
    quero continuação Carol!

    27 de setembro de 2008 às 14:56
  3. Bahasi said...

    Mr. Jairo...
    Em breve "capítulo inédito de A MOÇA DOS SEIOS VOLUPTOSOS NA BLUSA AZUL" - De Benedito Rui Barbosa, A NOVA NOVELA DAS OITO!!!

    28 de setembro de 2008 às 00:29
  4. Alessandra Castro said...

    Muito bom o conto, fikei com vontade de quero mais!

    28 de setembro de 2008 às 13:50
  5. Anônimo

    Oi, Daniel,...
    Quer dizer que enfim resolveu criar um blog para os seus contos eróticos!!
    Que bom pois assim seleciona melhor tem gente que pode ser enor de idade aqui ...
    QUe bom que você seguiu os conselhos da Iara de fazer um blog só para isto!!

    28 de setembro de 2008 às 19:40